terça-feira, 11 de junho de 2013

O tempo da diálise

O tempo da diálise

Faço diálise 3 vezes por semana, 4 horas por dia. Estas 4 horas parecem infinitas, olho para o relógio e, cada segundo parece uma eternidade.
Eu faço diálise às 6H da manhã, sou do primeiro turno, por assim dizer. Quando chego, as assistentes do centro estão a ligar as máquinas.
Sento-me na poltrona e tento relaxar, o que nunca consigo, porque aí começo a pensar como irá correr o tratamento.
As pessoas que estão de fora vêem as coisas de outra maneira e, deverão estar a dizer que não devia pensar assim, (eu até sei o porquê de estarem-me a dizer isso) mas é  muito difícil desviarmos os pensamentos para outro lado e/ou para outra coisa, quem faz o mesmo tratamento sabe o que estou a falar.
Já sentada na poltrona, ligam-me a máquina e, assim, tento ficar o mais confortável possível, tapam-me com uma manta e lá vou eu para mais uma batalha da minha vida. O meu sangue corre, parecendo que está a fazer uma maratona e, eu ali, à espera que ele chegue à meta.
Se é daqueles dias que o tratamento corre bem, ainda consigo adormecer e, aí é tão bom, não só porque tudo correu bem, mas também porque consigo descansar e relaxar e, assim, parece que o tempo voa. Quando acordo, estou no fim, ou quase. Aí agradeço a Deus, por o tratamento ter sido um sucesso.
Tenho outros dias, em que, até parece que está tudo a correr bem, mas quando estou quase a terminar aparecem-me cãibras. Começam nos pés, a seguir nas pernas e depois para o estômago. Já eu estou desesperada, gritando com dores, porque já não aguento mais. As assistentes do centro fazem de tudo para me aliviar as cãibras, massajando, mas não resulta, então, têm que desligar a máquina e dar por terminado o tratamento.
Tenho dias ainda piores, começando logo de início a correr mal, onde levo o tratamento todo a gritar com dores, elas vão massajando e desligando a máquina de vez em quando para me aliviar as dores, mas mesmo assim eu tenho que aguentar o maior tempo que puder. E, mais uma vez, não consigo completar o tratamento. 
Estas 4 horas que eu passo no tratamento são as piores da minha vida, são horas de tormenta, dor, sofrimento.
Eu agradeço a Deus e ao ser humano por ter inventado esta máquina, pois permite, a mim e às outras pessoas na mesma situação, estarmos vivas. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Pensamentos!




Pensamentos!



Penso, penso e levo os dias a pensar.
Tenho dias que nem sei o que penso e, tenho outro que só penso em mim.
Sei que estou a ser egoísta nos meus pensamentos, mas não consigo deixar de o ser.
Penso e pergunto o porquê de eu estar doente. Porquê eu? Porquê? Porquê? Mas não obtenho resposta e, então, continuo nos meus pensamentos.
A vida seria tão normal se não estivesse doente, mas Deus assim quis e, agora, tenho que viver com ela.
Cada dia para mim, é um obstáculo que eu ultrapassei, é um passo que dei na minha vida, um dia que estou viva.
Nos dias em que tenho tratamento, penso "mais um dia que não sei o que me vai acontecer. Não sei como vai correr o tratamento, se vou ter cãibras, se vou conseguir andar, se vou ficar mal disposta, se a minha tensão vai aumentar muito". Enfim um conjunto de coisas que, normalmente me acontece, por vezes só algumas, outras vezes todas e, ai é que eu tenho um dia daqueles que eu não desejo a ninguém.
Nestes dias eu penso em tudo e, não penso em nada, porque a minha cabeça está tão cansada e o meu corpo nem parece ser meu, é tudo tão estranho, tudo tão difícil.
Mas eu penso "foi mais um dia que passou e, amanha virá outro. Se Deus quiser será melhor que o de hoje".
"Estou viva e, é nisso que eu tenho que pensar, é nisso que eu tenho que me agarrar com as forças que me vão sobrando, pelo menos vou tendo para pensar, pensar, pensar." 






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